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Aguiar   Alcáçovas   Viana do Alentejo Geral

DATA
Séculos XIX-XX

TEXTO
Fátima Farrica - 2021

Capela do Santíssimo Sacramento


Esta capela – hoje inexistente, pois foi demolida em 1942, pela entidade responsável pelos Monumentos Nacionais – foi mandada construir, em 1848, por iniciativa do Pe. Luís António da Cruz, o mesmo que fundou o Instituto de Piedade e Beneficência. 

Efetivamente, uma das disposições do testamento daquele, redigido a 16 de setembro de 1848, foi a doação de dois mil cruzados para a construção de uma capela dedicada ao Santíssimo Sacramento, na igreja Matriz de Viana do Alentejo. Relativamente a esta capela aparecem mais algumas referências ao longo do texto testamental. Depois de distribuir várias peças em metais preciosos por diferentes herdeiros determinou que, tudo o resto que se achasse em casa em prata fosse utilizado para se fazerem uma píxide, o mais rica possível, e outras peças de prata para o culto da capela do Santíssimo Sacramento. Outra disposição testamentária consistia no estabelecimento de um Montepio, o qual devia doar, todos os anos, dez moedas para a cera do Santíssimo Sacramento e para a festa dedicada ao mesmo, na sua capela. 

A Capela do Santíssimo foi concluída em 1851 e a primeira festa do Santíssimo teve lugar a 8 de dezembro do mesmo ano.
 
O acesso à capela fazia-se pelo interior da igreja Matriz, onde se situava a entrada da mesma, na parede lateral do lado da Epístola. O corpo da capela ocupava, então, parte do conhecido largo de São Luís, extravasando a muralha sul do castelo e encontrando-se contíguo à Matriz.

Túlio Espanca refere que o altar do Santíssimo “de engessamento e madeiras coloridas desequilibrava, profundamente, os volumes austeros e antigos do templo, pelo que foi desarmado (…) a expensas dos Monumentos Nacionais do Sul”.

Em Memória Descritiva, datada de 22 de dezembro de 1937, refere-se que “foram previstos a demolição de vários anexos que desvirtuam a feição deste Monumento [castelo] e bem assim a reconstrução de muralhas em pontos onde essas demolições tem logar”. Por correspondência de 1942 sabe-se que determinadas obras de restauro do castelo se iniciaram a 5 de maio e terminaram em 26 de setembro desse ano. Em Proposta de Ajuste Particular, de 9 de maio do mesmo ano, o construtor civil António Domingues Esteves, residente em Valadares, compromete-se a executar, entre outros trabalhos, a “demolição de paredes de alvenaria argamassada” e a “reconstrução de muralhas em enchimento de rasgas, com alvenaria argamassada, à fiada segundo o existente”. Supõe-se, assim, que as demolições previstas em 1937 e as obras e demolições referidas em 1942 tenham incluído a Capela do Santíssimo Sacramento.

A capela foi, de facto, demolida e já não existe qualquer vestígio da sua existência.

Contudo, no Arquivo Histórico Municipal de Viana do Alentejo foi encontrado um “Auto de Vizita” daquela capela. E pela leitura deste texto é possível visualizar o seu o interior e, até mesmo, percecionar a sua forma exterior, ao referir-se a existência de uma lanterna no cimo do teto e de três óculos nas paredes laterais.

Do interior ficamos a saber que era espaçoso e iluminado, predominando o mármore, a cor branca e o dourado. As paredes eram apaineladas, fingindo pedra, com molduras e florões.

Relativamente a alfaias litúrgicas documenta-se a existência de uma píxide de prata lavrada e dourada, de dois purificadores e de quatro castiçais, a que se juntariam outras alfaias, da Paróquia e da Confraria do Santíssimo Sacramento. Possivelmente, as peças referidas, ou parte das mesmas, seriam aquelas cuja execução havia sido determinada pelo Pe. Luís António da Cruz no seu testamento.

Pela sua feição arquitetónica e decorativa foi considerado que o edifício se desenquadrava do contexto, tardo-medieval, do conjunto a que estava anexado, o que determinou a sua demolição, menos de cem anos depois de ter sido concluído. 

REFERÊNCIAS:

FARRICA, Fátima, No Espaço e no Tempo: Contributos para a História das Instituições de Viana do Alentejo (séculos XIV-XX), Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2015.
http:/www.monumentos.pt

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