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Fátima Farrica - 2021

A Albergaria de Santa Maria e a Confraria dos Homens Bons Ovelheiros


Esta albergaria foi fundada por Fernão Martins, sua mulher, D. Maior, e seus filhos, no princípio do século XIV ou, talvez, ainda nos finais do século XIII. A eles pertenceria o primeiro legado para a sobrevivência económica da mesma. O próprio edifício onde a albergaria tinha o seu assento pertenceu à herança dos instituidores e é provável que tivesse sido a sua habitação.

As albergarias medievais eram destinadas a peregrinos e a pobres, para quem as regras sociais prescreviam a hospitalidade. Por outro lado, os hospitais eram destinados ao tratamento dos doentes pobres, mas tinham muitas vezes dependências reservadas a peregrinos, ou, se não as tivessem acolhiam-nos nas instalações para doentes.

Como era comum na época, a albergaria de Viana tinha anexa uma igreja da invocação de Santa Maria, local onde se praticava o culto religioso, nomeadamente a realização de missas por alma dos fundadores e daqueles que deixavam bens à instituição.

A ação do casal fundador decorreu na linha do que era comum na época, no que toca à criação destes estabelecimentos. A maior parte dos doadores fundava instituições de reduzida capacidade, com instalações sumárias, reduzidas a uma ou duas divisões com os respetivos leitos. Já no início do século XVI a albergaria possuía apenas cinco ou seis camas, o que permite inferir quão pequena seria no início do século XIV.

Os hospitais e as albergarias eram mantidos através de doações de terras, casas ou outros bens. Património que não revertia inteiramente a favor da manutenção das instituições, pois grande parte dos fundos destinava-se a pagar missas por alma do doador. A encomenda de missas por alma era, aliás, a razão fundamental por detrás das doações a instituições religiosas (igrejas, conventos, mosteiros) ou de vivência cristã (confrarias, hospitais, albergarias).

Em 1319 foi criada a Confraria dos Homens Bons Ovelheiros, que se tornou responsável pela administração da albergaria de Santa Maria.

As confrarias, associações de cristãos para a prática da caridade, espalharam-se pela Europa a partir dos séculos X-XI. O seu fim era o amor ao próximo, em vida, na altura da morte e após esta. Em vida, atendiam ao “irmão” pobre ou caído na pobreza, quer fosse confrade ou não. Por isso, possuíam muitas vezes albergarias e hospitais. Além disso, o culto dos mortos era uma obrigação dos irmãos.

A confraria de Viana, compostas pelos homens de maior destaque social local e que eram criadores de gado ovino, tinha um espírito igual ao de outras no país. Além de administrar uma albergaria, mandavam-se rezar missas por alma dos confrades mortos. Para o irmão que morresse longe da sua terra os confrades determinavam o transporte e o acompanhamento do morto até à sua localidade, à custa do próprio ou da confraria. Se um pobre, não confrade falecesse na albergaria, as despesas com o funeral e com as missas por alma eram repartidas entre a albergaria e os confrades, que eram obrigados a acompanhar o morto até à sua última morada, sob pena de pagamento de uma multa para os que o não fizessem.

O culto a Maria era o privilegiado pela confraria dos Ovelheiros. Ela era a intercessora junto de Cristo, quer pelos que já tinham partido, quer pelos que ainda andavam neste mundo. Ela era a mediadora para a obtenção da salvação eterna.

Com o passar dos séculos, a designação de albergaria de Santa Maria, em alusão à advocatura sob a proteção da qual se instalou, foi superada pela de hospital de Nossa Senhora da Graça, designação que surge em documentação de 1534. Tal facto mostra-nos que a invocação foi alterada, o que aliás, aconteceu um pouco por todo o reino, em muitos locais de culto.

Em data desconhecida da segunda metade do século XVI o hospital e a igreja foram incluídos na administração da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Alentejo, que tinha sido fundada em 1516. A própria confraria dos Ovelheiros terá sido absorvida pela Santa Casa na mesma altura. Esta integração levou à denominação do hospital da vila por hospital da Misericórdia e a igreja de Nossa Senhora da Graça tornou-se mais conhecida como capela do hospital. Até há alguns anos, o hospital e, depois, o centro de saúde local, funcionavam, precisamente, no espaço sede das antigas confraria e albergaria medievais.

A confraria dos Homens Bons Ovelheiros juntamente com a albergaria de Santa Maria que aquela administrava, são as mais antigas instituições vianenses conhecidas pela historiografia na atualidade.

REFERÊNCIAS:
ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Évora. Concelhos de Alandroal, Borba, Mourão, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Viana do Alentejo e Vila Viçosa, Lisboa, Academia Nacional de Belas Artes, Tomo IX, Vol. 1, 1978.
FARRICA, Fátima, No Espaço e no Tempo: Contributos para a História das Instituições de Viana do Alentejo (séculos XIV-XX), Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2015.

 

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