Início património capela de nossa senhora da graça (capela do hospital)

Abrir Lista
Aguiar   Alcáçovas   Viana do Alentejo Geral

DATA
Séculos XIV-XVIII

FOTOGRAFIA
Capela de Nossa Senhora da Graça
Francisco Baião - 2016

TEXTO
Fátima Farrica - 2015

Capela de Nossa Senhora da Graça (capela do hospital)



A igreja, situada na rua a que dá o nome – da Graça –, faz parte do conjunto edificado originado pela mais antiga instituição vianense conhecida pela historiografia na actualidade. Ainda antes do ano de 1319, Fernão Martins e sua mulher, D. Maior, e seus filhos fundaram no local uma ermida e uma albergaria ou hospital da invocação de Santa Maria. As albergarias ou hospitais eram destinadas a receber peregrinos e pobres, para quem a moral cristã e as regras sociais prescreviam a hospitalidade. Só a partir dos finais do século XV os hospitais se caracterizaram pelo acolhimento específico de doentes Assim, este tipo de fundação era comum entre os cristãos, com o objectivo de promover a salvação da alma através das obras de caridade praticadas em vida.  
A 8 de Junho 1319 foi fundada, no mesmo espaço, a confraria dos Homens Bons Ovelheiros que passou a administrar a albergaria gerindo todos os seus bens. As confrarias eram associações de cristãos para a prática da caridade pelo que, geralmente, tinham anexos hospitais ou albergarias. No caso de Viana trata-se de uma confraria de homens bons, ou seja, dos indivíduos mais proeminentes da localidade, os mais ricos e poderosos entre os quais se elegiam os que ocupavam os cargos do governo camarário. Esta confraria reunia também os que detinham um mesmo ofício, eram criadores de gado ovino.
Entre o património da instituição no século XVI encontramos casas, courelas, ferragiais, vinhas, olivais, metade de um moinho e uma herdade, designada na época herdade de Nossa Senhora e hoje Quinta de Santa Maria, mais vulgarmente conhecida por Quinta do Duque pelo facto de ter vindo a pertencer aos duques do Cadaval. Todas estas propriedades rústicas se situavam no termo da vila e do moinho e da herdade provinham os maiores rendimentos. A herdade foi doada à albergaria por Afonso Eanes do Crato, no ano de 1462, para que todos os anos os confrades mandassem dizer por sua alma duas missas oficiadas. Doação confirmada pelo rei D. Afonso V em 1464. 
Com o passar dos séculos, a designação de albergaria de Santa Maria foi suplantada pela de hospital de Nossa Senhora da Graça. A denominação de Santa Maria da Graça, ou de Nossa Senhora da Graça, será posterior à Época Medieval. Encontra-se registada, por exemplo, no ano de 1534, época em que se vulgariza também a designação de hospital. Nessa altura a capacidade da albergaria era de apenas cinco ou seis camas. Esta reduzida lotação, duzentos anos depois da fundação, permite inferir quão pequena seria no início do século XIV.
Em data desconhecida do século XVI, a albergaria/hospital e a ermida foram integradas na Santa Casa da Misericórdia (fundada em 1516), que passou a gerir todos os seus bens, assim como o próprio serviço hospitalar. A partir daqui perde-se o rasto da confraria, presumivelmente extinta nessa época. Até há alguns anos o hospital da vila, conhecido como hospital da Misericórdia, e depois o centro de saúde local, funcionavam, precisamente, no espaço sede das antigas confraria e albergaria medievais. 
Do século XVI é também a fisionomia arquitectónica da actual igreja, que resultará de obras realizadas sobre a ermida medieval. A alteração poderá ser contemporânea à sua integração na Santa Casa. Destaca-se o portal de mármore semelhante à porta lateral da igreja Matriz, que Túlio Espanca afirma ser obra dos mesmos mestres. 
Tem nave de planta rectangular que, segundo Espanca, terá sido antecedida por nartex, que teria sido sacrificado para construir o vestíbulo do antigo hospital. Possui capela-mor de planta quadrada antecedida de arco triunfal em pedra. Quer na nave, quer na capela-mor encontram-se representada a cruz da Ordem de Cristo. 
O retábulo, obra de estilo Maneirista, é de talha e resulta de reforma do século XVII. É constituído por pórtico de dois andares sobre mesa de mármores negro e branco, do final do século XVIII, e decorado por tabela Rococó de enconchados e com o emblema A.M. 
Possui ainda uma sacristia, de época coeva à do edifício, onde se encontra um lavabo de mármore do século XVIII. 
Alberga as imagens de N.ª Sr.ª da Graça, escultura de madeira da época de D. João III, e uma imagem moderna de N.ª Sr.ª de Fátima, mas actualmente está desafecta do culto. 

REFERÊNCIAS
ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal: Distrito de Évora: Concelhos de Alandroal, Borba, Mourão, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Viana do Alentejo e Vila Viçosa, Lisboa, Academia Nacional de Belas-Artes, 1978,Tomo IX, Vol. 1.
FARRICA, Fátima, No Espaço e no Tempo: Contributos para a História das Instituições de Viana do Alentejo (Séculos XIV-XX),Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2015. 

     MUNICÍPIO DE VIANA DO ALENTEJO

Coordenação Científica: Fátima Farrica     ::     Todos os direitos reservados: Conhecer a História@2017