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Aguiar   Alcáçovas   Viana do Alentejo Geral

DATA
Séculos XVII-XIX

FOTOGRAFIA
Ermida de Santo André e cemitério municipal
Joaquim Filipe Bacalas - 2017

TEXTO
Fátima Farrica - 2015

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Ermida de Santo André e cemitério municipal



Actualmente esta pequena ermida está inserida dentro do cemitério municipal, mas é pré-existente ao mesmo. Desconhece-se quem ou que factos poderão ter motivado a sua elevação, mas terá sido construída no século XVII, pois já existia em 1708, e dessa mesma época é a sua aparência arquitectónica. Só em 1871 foi construído o novo cemitério de Viana na sua envolvência, cuja localização se deve ao médico António José de Sousa, pai de António Isidoro de Sousa. 
Ermida composta por nave e capela-mor, com cobertura em telhado de duas águas na nave; e em cúpula e agulha piramidal na capela-mor. A fachada principal, que possuiria galilé, foi reformulada com pano único rematado por frontão triangular e pórtico central com duas pequenas janelas colaterais. As fachadas laterais são contrafortadas. No interior cobertura em abóbada de arco de volta perfeita na nave e em cúpula sobre trompas na capela-mor.
Desde a Idade Média e até ao século XIX os sepultamentos eram feitos no interior das igrejas (paroquiais, conventuais, catedralícias, de misericórdias, etc.) e nas suas imediações por se considerarem solos sagrados, mais próximos do Divino. Porém, na sequência da implantação do novo regime político do Liberalismo em 1820 foi promulgado o Decreto-Lei de 21 de Setembro de 1835 – durante o governo Cartista do Duque de Saldanha – que determinou que em cada concelho tinha de existir pelo menos um cemitério fora das localidades, por razões de higiene e de saúde pública. Este Decreto foi completado com o Decreto de 28 de Setembro de 1844, promulgado durante o governo de Costa Cabral, que proibiu os enterramentos nas igrejas e impôs que os sepultamentos passassem a ser feitos em cemitérios. 
Todavia, estas novas determinações não foram isentas de polémicas e até de guerras. Afastar os mortos dos espaços sagrados, onde tinham sido depositados durante séculos, pareceu, na época, uma aberração. Por isso, a proibição dos enterramentos nas igrejas determinou uma revolta no Minho, em 1846, que ficou conhecida como a revolta da Maria da Fonte. Revolta na sequência da qual se desenrolou a guerra civil da Patuleia entre Cartistas, que representavam a rainha, e os revoltosos Setembristas/Miguelistas. Esta guerra teve um combate nas imediações de Viana do Alentejo (localidade que se manteve fiel à rainha) em Outubro de 1846, na zona do ferragial d’El Rey. Este confronto, tal como a própria guerra, terminaram com a vitória dos Cartistas. 
Porém, a escassez de recursos fazia com que os cemitérios não fossem feitos com a rapidez desejada. O cemitério de Viana surgiu, assim, do contexto histórico apresentado, mas só foi executado décadas depois das determinações do governo central. 
Numa atitude progressista, o vianense Francisco de Melo Cabral e Sousa determinou a construção do primeiro jazigo do cemitério de Viana, disposição que se encontra no seu testamento, datado de 1872. Porém, a sua edificação poderá ter começado ainda em vida do testador, uma vez que só veio a falecer em 1875. Este mausoléu, localizado na rua principal do cemitério, é o primeiro do lado direito de quem sai da ermida de Santo André e tornou-se o jazigo da família Cabral, Morgados de Santa Catarina de Estremoz. 

REFERÊNCIAS
Arquivo Histórico Municipal de Viana do Alentejo, Administração do Concelho de Viana do Alentejo, Registo de testamentos, Lv007 (ACVA/K/001/Lv007-1875-1879).
CALDEIRA, João Luís Cabral Picão, Morgados de Santa Catarina de Estremoz, 1ª ed., Lisboa, Colibri, 1999.
COSTA, António Carvalho da, Corografia portugueza, e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal…., Lisboa, Na Officina de Valentim da Costa Deslandes, 1707, tomo II.
NUNES, Teresa, Maria da Fonte e Patuleia: 1846-1847, Matosinhos, QuidNovi, 2006, (Batalhas da História de Portugal, 16)
SOUSA, João Manuel Santana de, História da Primeira Adega Social Portuguesa, Viana do Alentejo, Câmara Municipal, 1993.
www.monumentos.pt/

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