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Aguiar   Alcáçovas   Viana do Alentejo Geral

DATA
1483-1555

TEXTO
Fátima Farrica - 2015

Brites Dias Rodovalho (D.)


Foi a fundadora do mosteiro do Bom Jesus. 
Era filha do cavaleiro Diogo Vaz Rodovalho e de D. Maria Esteves Cansado, nobres vianenses. Terá nascido em Viana em 1483, localidade onde faleceu com 72 anos de idade, a 28 de Julho de 1555.
Brites saiu de casa aos 16 anos para se ir recolher com outras mulheres que praticavam a pobreza, a castidade e a oração, não tendo professado como freiras, a que chamavam “as pobres”. Viviam nas suas próprias casas localizadas nas imediações do Poço Novo (situado no cruzamento das actuais ruas Miguel Bombarda e António Isidoro de Sousa). 
Terá vivido 13 anos nesse recolhimento, mas tinha intento de edificar um mosteiro dedicado ao Santíssimo Nome de Jesus. Por isso, pediu a seu pai a doação dos bens que lhe cabiam por herança, os quais obteve em 1512 e que consistiam em terras, casas, escravos, móveis e livros. Não sabemos de que livros se tratavam, mas existe um episódio emblemático atribuído à sua adolescência de que estes livros podem ter feito parte. De acordo com registo documental do século XVII, quando D. Brites tinha 15 anos o pai fez uma viagem a Lisboa. Antes de partir terá perguntado à filha que jóia, ou outro presente, desejava que lhe trouxesse para se poder adornar. D. Brites terá respondido que era esposa de Jesus e que não queria outra coisa senão a vida do dito Senhor. Surge aqui um primeiro indício da sua vocação religiosa. O pai ter-lhe-á satisfeito o pedido trazendo-lhe uns livros sobre a vida de Jesus. A referência documental a estes livros é vaga, mas, segundo consta ainda se guardavam no mosteiro no século XVII. Não sabemos hoje, exactamente, a que livros se referem mas, tendo em conta a indicação que tratavam sobre a vida de Cristo, bem como as disponibilidades bibliográficas da época, poder-se-á tratar de um exemplar em três volumes do Vita Christi de Ludolfo da Saxónia, um dos primeiros livros a ser impresso em Lisboa em Língua Portuguesa, no ano de 1495. 
Depois de receber o dote D. Brites terá decidido recolher-se numas casas que tinha na rua do Poço Novo (actual rua Miguel Bombarda) onde comprou outras, com intento de fundar um mosteiro, e aí vivia com algumas donzelas. A informação parece indicar que passou a viver noutro espaço que não aquele onde vivia antes recolhida quando saiu de casa dos pais aos 16 anos, mas sempre na proximidade do Poço Novo. 
Posteriormente, D. Brites terá ido a Lisboa, ao paço da Infanta D. Isabel, onde servia a sua sobrinha D. Leonor Vaz Rodovalho que seria aia do Infante D. Luís. Aí persuadiu a sobrinha ir viver com ela em Viana, o que aquela fez. E terá sido a mesmo a Infanta D. Isabel que lhe recomendou a integração do mosteiro que intentava fundar na ordem de São Jerónimo. 
Com esse propósito, de uma vida em comunidade integrada nessa Ordem, D. Brites ter-se-á deslocado ao mosteiro de Santa Maria de Belém, vulgarmente conhecido por mosteiro dos Jerónimos, para pedir a aceitação na irmandade da Ordem Hieronimita. Assim, a 24 de Fevereiro de 1535, ter-lhe-ão dado a “conservatória no temporal e espiritual”. 
Após o avanço nos seus intentos, com a obtenção da conservatória, D. Brites terá regressado a Viana, onde se recolheu no cenóbio, com mais sobrinhas e parentes, e mandou pedir a Roma as licenças necessárias para “edificar mosteiro e fazer religião de mulheres professas”, enquanto pedia autorização “às pessoas reais” para o mesmo fim. 
Porém, D. Brites terá continuado a ir ao paço da Infanta D. Isabel, onde fez doação para a fundação do mosteiro a 30 de Abril de 1548. Nele doou casas, na rua do Poço Novo, onde tinha um oratório com a invocação de Jesus, e todos os seus bens de raiz, móveis e semoventes, direitos e acções. Como contrapartida, exigiu o cargo de superiora do mosteiro e quando ela já não o pudesse exercer que passasse a sua sobrinha, Leonor Vaz Rodovalho, a outras suas sobrinhas ou a qualquer outra parente que estivesse no mosteiro, a que fosse mais apta. Pedia ainda que, na congregação, lhe dissessem para sempre, na 1ª Sexta-feira da Quaresma, uma missa pela sua alma e de seu pai, mãe e outras pessoas de que tivesse encargo.
Em consequência das suas acções, o cardeal Infante D. Henrique, como arcebispo de Évora, enviou a Viana o Pe. Frei Luís de Baessa, frade Jerónimo castelhano, para se informar sobre a vida que levavam e achou-a de acordo com o que era expectável numa Casa Religiosa. Na altura estariam 11 mulheres recolhidas. 
Assim, um alvará do cardeal Infante D. Henrique, dado em Évora a 21 de Fevereiro de 1550 concede licença para que se levantasse o dito altar, e nele se celebrasse o culto divino, e para levantar campanário com sino.
Alguns anos depois o arcebispo de Évora determinou aceitar, então, os pedidos de D. Brites e enviou o frade Luís de Baessa com provisão para lhes tomar obediência e fazer professar as religiosas. Nessa provisão, emitida a 14 de Julho de 1553, o cardeal afirmava que D. Brites e as mais religiosas e beatas, em sua casa e mosteiro da invocação de Jesus, já havia quatro anos que estavam recolhidas e já tinham recebido o hábito das mãos de frei Luís. Assim, por esta provisão, o cardeal aceitava-as debaixo da sua autoridade e mandava ao dito frei que aceitasse a obediência e sujeição das beatas.
Em sequência, a 15 de Julho de 1553, era celebrada, em Viana, nova escritura de fundação e doação feita por Brites da Coluna – nome pelo qual Brites Dias Rodovalho passou a ser conhecida em religião – e outras religiosas. Este documento é uma confirmação da intenção já manifestada em 1548, de fundação do mosteiro e de doação dos seus bens, sendo agora esta doação alargada às outras mulheres que aí professaram. Agora queriam obrigar-se a viver em regra e observância, segundo os Estatutos, Regra e Constituições da Ordem de São Jerónimo, pertencentes ao Regimento das freiras, as quais haviam sido feitas no mosteiro de San Bartolomé de Lupiana, no Arcebispado de Toledo. As doações foram feitas por todas as que pretendiam fazer profissão com o intuito de serem religiosas da Ordem. E ofereceram os ditos bens e fazendas ao padre frei Luís, que estava presente na realização da escritura, por mandado do cardeal, o qual aceitou as doações das religiosas.
O juramento foi feito na igreja do mosteiro a 21 de Julho de 1553. Nele juraram sobre os Santos Evangelhos que queriam viver segundo as Regras e Constituições da Ordem de São Jerónimo, pertencentes ao Regimento das freiras; que queriam ter por superior o cardeal Infante, como ordinário do Arcebispado; e que queriam estar debaixo do seu regimento e de seus prelados provinciais. Seguidamente o frade deu-lhes a Regra de Santo Agostinho e as Constituições da ordem de São Jerónimo conquista há muito desejada.  
As primeiras religiosas não professaram todas ao mesmo tempo. Em 1553 só quatro o fizeram e em dias distintos. D. Brites da Coluna foi a quarta a professar. 
De pequena dimensão do mosteiro de Jesus, da mesma invocação do oratório particular da fundadora, impossível de expandir por estar dentro do perímetro urbano, e a eventual vontade de imitar São Jerónimo no seu afastamento do mundo levou D. Brites da Coluna a determinar edificar um novo mosteiro fora da vila. Assim, o dia 1 de Agosto de 1554 é apontado como aquele em que se começou a edificar o novo mosteiro, por ordem do cardeal Infante D. Henrique, no rocio das hortas da Fonte Coberta.
D. Brites terá ainda sofrido perseguições de parentes nobres e do povo que queriam contrariar a sua intenção e não lhe queriam vender as hortas e terras circunvizinhas para poder edificar, pelo que terá comprado os terrenos a mais elevado preço do que o valor real, tendo gasto, assim, grande parte do seu património.
Para o novo mosteiro transitaram as freiras em 1560, já depois da morte de Brites da Coluna, ocorrida em 1555, e para o novo edifício foram trasladados os ossos da fundadora onde se enterraram no coro baixo, debaixo da coluna de mármore que suporta o coro alto. Este acontecimento, a ter tido lugar, tem significado simbólico, tendo em conta o nome adoptado pela fundadora em religião (Coluna) e o facto de ela ter sido a coluna espiritual que edificou o mosteiro. Sepultou-se, por isso, debaixo da coluna que serve (ainda!) de fundamento à obra temporal.

REFERÊNCIAS
Biblioteca Pública de Évora, Mosteiro do Bom Jesus de Viana do Alentejo, Lv.1.
Biblioteca Pública de Évora, Mosteiro do Bom Jesus de Viana do Alentejo, Lv.60.
Biblioteca Pública de Évora, Mosteiro do Bom Jesus de Viana do Alentejo, mç 122.
Biblioteca Pública de Évora, Cód. CV/1-26 (“Memórias” do Mosteiro do Bom Jesus de Viana do Alentejo).
FARRICA, Fátima, No Espaço e no Tempo: Contributos para a História das Instituições de Viana do Alentejo (Séculos XIV-XIX), Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2015.

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