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Autor: Fátima Farrica - 2021

Alcáçovas


No que se refere à presença humana na região ainda na pré-história, são de referir monumentos funerários neolíticos, constituído por antas ou “dólmenes, tais como a anta do Vale da Palha. No âmbito dessa cultura megalítica (grandes pedras), que ocorreu há cerca de 5.000 anos, surgiram, também no Alto Alentejo, os menires: grandes blocos ou lajes, sumariamente afeiçoados, intencionalmente fincados no solo, na vertical; que podem surgir isolados ou em núcleos, sobretudo formando recintos, também designados por cromeleques. Em Alcáçovas foram encontradas algumas pedras em forma de fuso, estreitas e compridas, que se foram arrumando num terreno do Chão de Mocho. Teriam algumas delas aparecido aquando dos trabalhos de terraplanagem da vizinha urbanização de Cabeços de Manuel, outras teriam vindo do antigo Rossio de S. Pedro, largo fronteiro à ermida homónima. Algumas apresentam sinais de enterramento parcial, na vertical. Segundo Francisco Baião, não é de excluir a hipótese do topónimo “Chão do Mocho” (ou dos Mochos), estar relacionado com a presença daquelas pedras, pois não deixa de ser notória a semelhança das suas silhuetas estáticas, quando colocadas em posição, com a daquela ave de rapina noturna.

Há também registo de um povoado da Idade do Ferro na zona do convento da Senhora da Esperança. Tratar-se-ia de um habitat de alguma dimensão, com cerca de nove hectares, dispondo provavelmente de muros de proteção e que procurava tirar partido da grande riqueza agrícola, cinegética, silvícola, hidrológica e geológica oferecida pela zona envolvente.

A região de Alcáçovas também conheceu, durante séculos, a civilização romana. Segundo Francisco Baião, tudo indica que à ocupação proto-histórica do monte da Senhora da Esperança se sucedeu, no mesmo espaço, a romana. O povoado, por onde passava um dos caminhos que ligavam Ebora (Évora) a Miróbriga – nos arredores de Santiago do Cacém – deve ter atingido alguma relevância estratégica, já que, de acordo com aquele autor, estaria apetrechado com uma apreciável fortificação. A estrada vinha do Torrão, onde fazia ligação a uma outra que se dirigia ao importante porto fluvial de Porto de Rei e a Salácia (Alcácer do Sal). Da Senhora da Esperança para Ebora, passava ainda pela pequena povoação de Alcalá e pela “villa” romana de Nossa Senhora da Tourega. 

Em dezembro de 1895, depois de ter pernoitado numa estalagem de Alcáçovas, o prestigiado arqueólogo José Leite de Vasconcelos visitou a Senhora da Esperança. Do que viu deu, depois, noticia na revista o “Archeologo Portuguez". Aí encontrou vestígios de ocupação romana e daí levou, para o Museu Etnológico Português, um vaso de barro e uma lápide marmórea em forma de pipa e com inscrição.

O nome da vila é de origem árabe, significando fortaleza, local fortificado. Sendo a época de domínio muçulmano do atual território português a que corresponde ao período entre os séculos VIII e XIII, terá sido por essa altura que alguma construção islâmica de vulto terá existido nesta área, ainda que hoje não se conheçam vestígios dessa presença. Existe, todavia, na toponímia envolvente, a designação de monte Monçarve ou Monsarves o que indicará a presença de moçárabes, cristãos sob domínio muçulmano, arabizados. 

A conquista cristã dos territórios sob ocupação muçulmana, no espaço que hoje compõe Portugal, terminou em 1249, quando o rei D. Afonso III alcançou a tomada definitiva de Faro. Mas a povoação de Alcáçovas terá passado para a mãos dos reis de Portugal ainda na segunda metade do século XII, provavelmente aquando da conquista de Évora em 1165.
 
Na sequência dessa ocupação era necessário promover o povoamento, a defesa e o desenvolvimento económico dos territórios conquistados, bem como a organização diocesana e paroquial. Assim, os reis portugueses socorreram-se das ordens religiosas militares, dos bispos e dos nobres para alcançar esses objetivos. Houve, pois, uma senhorialização de muitos espaços, que foram doados pelos reis a essas outras entidades, para que as regessem e defendessem. 

Desse modo Alcáçovas terá entrado na posse do bispo de Évora, uma vez que, em 1258, o prelado, D. Martinho, e o deão e o Cabido da mesma cidade, concederam o primeiro foral a Santa Maria de Alcáçovas. Documento normativo que estabelecia os contornos das relações entre os homens da localidade e destes com essa autoridade superior que era o bispo, no que tocava a direitos e deveres, nomeadamente o pagamento de determinados tributos e coimas. O diploma tinha como fim, precisamente, promover o povoamento e o desenvolvimento da localidade.
 
Entre aquela data e 1271 a vila (já assim era considerada em 1258) viu o seu nome simplificado apenas para Alcáçovas.  E entre aquele mesmo ano, de 1258, e 1308, em algum momento o orago da freguesia passou de Santa Maria para São Salvador.

Mas em 1271, o rei D. Afonso III retirou Alcáçovas do usufruto do bispo de Évora, e incorporou-a nos bens da Coroa.

No termo do concelho de Alcáçovas, ou seja, dentro dos limites do concelho, existia um território com autonomia jurisdicional: o reguengo de Alcalá, também chamado de julgado de Alcalá. Reguengo era a qualificação jurisdicional que possuíam os lugares dependentes diretamente da autoridade do rei, ou seja, terras cujo senhor era o próprio rei. O de Alcáçovas foi aforado por D. Dinis, em 1283, a todos os que estivessem interessados, para que fosse cultivado. Tratou-se, portanto de um aforamento coletivo. O facto de ser jurisdicionalmente classificado como julgado, circunstância que não sabemos quando se fixou, significa que tinha justiças próprias, isto é, eram os que aí viviam que elegiam os juízes que julgavam as suas causas, e nele não podiam entrar outros magistrados régios ou senhoriais. Na prática, tratava-se de um território que, embora nas imediações da vila, sobre ele a câmara não tinha qualquer intervenção. Partindo do princípio que os atuais montes do Reguengo de Alcalá e da Alcalainha constituíam o Reguengo de Alcalá, estes fazem hoje parte do concelho de Évora, embora se situem a pouco mais de um quilómetro dos limites NE da freguesia de Alcáçovas.
Sobre a ligação de D. Dinis a Alcáçovas, na realidade só se comprova que aquele rei esteve na vila em 1295, numa breve estadia, podendo aí ter passado o Natal e o Ano Novo, ou, mais garantidamente, a solenidade da Circuncisão do Senhor (1 de janeiro).

Embora alguns autores tenham afirmado que Alcáçovas também recebeu um foral de D. Dinis, Maria Alegria Fernandes Marques já discutiu o tema, concluindo que não há qualquer notícia de um foral atribuído por aquele soberano.

No que respeita a textos regulamentares, era comum na Idade Média que determinados concelhos passassem a outros os seus costumes e leis locais. Assim, em 1299, o alcaide e os juízes do concelho de Évora enviaram cópias dos seus costumes ao alcaide e juízes do concelho de Alcáçovas, a mando do rei D. Dinis. Na Idade Média o alcaide era um cargo de natureza militar, embora também pudesse acumular funções da magistratura municipal e intervir nos negócios administrativos e de jurisdição. Os juízes eram os cargos superiores nas câmaras municipais, exercendo a justiça no aro do concelho.

Talvez a ideia perpetuada de que D. Dinis concedeu um foral a Alcáçovas se tenha devido a um erro de interpretação, que tenha confundido o aforamento coletivo de 1283, ou os costumes passados de Évora a Alcáçovas em 1299, com um novo texto foralengo.

Na antiga igreja paroquial, primeiramente dedicada a Santa Maria, foi criada – em 1308, pelo bispo de Évora, D. Fernando II – uma colegiada, ou seja, à semelhança do que acontecia nas catedrais, passou a existir naquela igreja um conjunto de clérigos, designados por raçoeiros, presididos por um prior. Este conjunto de membros, que compunha o corpo colegial, era bastante variável, dependendo da dimensão e do prestígio de cada instituição, mas desconhecemos quantos existiram em Alcáçovas. Já em 1346 foram criados os beneficiados da mesma igreja. Assim, além de um reitor, passaram a existir quatro beneficiados. Dos rendimentos da igreja, uma terça parte era para o bispo de Évora, a outra terça para o reitor e a restante era dividida pelos beneficiados.
 
Por volta de 1355, Alcáçovas foi uma das terras dada em dote á infanta D. Maria, filha mais velha do rei D. Pedro I e da rainha D. Constança, por ocasião do seu casamento com o infante D. Fernando de Aragão.

Alcáçovas tinha 10 besteiros do conto antes de 1385, 16 em 1385 e 10 em 1422. Estes homens eram militares recrutados em cada terra e serviam na guerra com uma arma chamada besta. O número de besteiros de cada concelho, provenientes do sector artesanal, variava em função do desenvolvimento e das disponibilidades demográficas das vilas e cidades. Comparativamente, podemos apontar que antes de 1385 os besteiros do conto de Viana eram 12 e em 1385 e em 1422 esse número mantinha-se. Diga-se, ainda, que em 1422 Alvito também tinha 12, Portel cerca do dobro, com 25, enquanto Évora era a localidade da comarca com mais besteiros: 100. Os besteiros do conto viriam a ser extintos em 1498, nas cortes de Lisboa, reinado de D. Manuel I.

Em abril 1384 foi confirmada, por D. João, Mestre de Avis (futuro rei D. João I), a mercê da vila de Alcáçovas a Fernão Gonçalves de Sousa, escudeiro fidalgo, feito cavaleiro por D. Fernando. Assim, o concelho e os homens bons de Alcáçovas teriam de pagar àquele as rendas e os direitos de lugar, como ele as havia tido no tempo de D. Fernando.

Todavia, desavenças entre D. João e aquele agraciado, determinaram que em agosto de 1384 o Mestre de Avis concedesse a Afonso Pires, dito da Charneca, morador em Lisboa, a tença de todo o pão que a coroa haveria de receber em Alcáçovas e seu termo. E, logo no mês seguinte, Afonso Pires recebeu uma carta do Mestre de Avis, para tomar posse da vila de Alcáçovas, como recompensa pelos serviços prestados.

Por morte daquele, o rei D. João I concedeu a vila de Alcáçovas, já em 1387, a Antão Vasques, morador em Lisboa. Contudo, pensa-se que este nunca a possuiu.

Em 1392, D. João I reconheceu o bispo de Coimbra, D. Martinho Pires, dito da Charneca, como único e legítimo herdeiro de seu irmão, Afonso Pires, atrás citado, e declarou-o como legítimo senhor da vila de Alcáçovas.
 
Segundo as evidências arqueológicas, o antigo paço real de Alcáçovas, que se tornaria depois moradia dos Henriques, será ainda do século XIV, sendo mesmo possível que uma construção mais antiga ali tivesse existido. Todavia, não existe prova documental de que teria sido D. Dinis a mandar edificar tal construção. A sua aparência era muito simples e o seu aspeto conjetural já foi reconstituído por Francisco Baião. De fato, na Idade Média a corte régia era itinerante e existiam ao longo do território nacional diferente paços que neles permitam estanciar. Por isso, talvez aqui tenha repousado a Corte algumas vezes.

Em 1433, o rei D. João I doou a vila de Alcáçovas, com os seus reguengos e direitos, a D. Álvaro Pires de Castro que também foi alcaide-mor da vila. 
Em algum momento a localidade deve ter revertido para a Coroa, pois o rei D. Duarte doou o senhorio e as jurisdições das Alcáçovas a D. Fernando Henriques (n.1407- f.1452) para honra de sua casa, bem como as jurisdições e direitos reais do Reguengo ou Julgado de Alcalá, em reconhecimento dos laços de parentesco que tinha com o rei de Portugal. Aquele tornou-se, assim, o 1º Senhor de Alcáçovas da Casa dos Henriques. Mas a carta de mercê só seria passada depois da morte do rei em 1439, já no reinado de D. Afonso V. Desconfortáveis e perdendo funções, à medida que a Corte se começou a fixar em Lisboa e que esta cidade se assumiu como capital do reino, os paços régios foram, por vezes, entregues a senhores da nobreza. Terá sido nesse contexto que as “casas grandes”, o paço real, de Alcáçovas e o senhorio da vila foram concedidos aos Henriques, apelido de família que se converteu no nome do espaço. A família Henriques, proveniente de Castela, tinha chegado a Portugal no reinado de D. João I, através de D. Fernando Henriques (n. 1365- f.1438), filho bastardo do rei Henrique II de Castela e pai do sujeito homónimo agraciado com a doação de Alcáçovas. 
Embora o reguengo e julgado de Alcalá tivesse capacidade para eleger justiças próprias, como já dissemos, era o senhor da vila, membro da família dos Henriques, quem confirmava os que assim eram eleitos para que pudessem exercer a sua jurisdição.

No paço de Alcáçovas terão decorrido, em 1447, os duplos matrimónios das infantas D. Isabel e D. Beatriz (filhas do infante D. João e netas do rei D. João I), a primeira com D. João II, de Castela, e a segunda com o infante D. Fernando, duque de Viseu. Uniões com descendência histórica notável, pois deram como frutos principais a rainha de Castela, D. Isabel I, a Católica, e o rei de Portugal, D. Manuel I, o Venturoso.

Devido à morte do 1º Senhor de Alcáçovas em1452, o rei D. Afonso V fez mercê a D. Branca, esposa de D. Fernando Henriques, do senhorio das Alcáçovas, em 1453, com todas as suas rendas e pertences.

Os registos mais antigos sobre a existência de um espaço de culto no local do atual convento da Senhora da Esperança, são de 1455 e referem-se apenas uma ermida, que nessa época seria dedicada a Nossa Senhora da Graça.

Todavia, em 1459, D. Afonso V doou o senhorio de Alcáçovas, com direitos e jurisdições, a D. João, segundo filho do segundo duque de Bragança e futuro Marquês de Montemor-o-Novo, exceto o reguengo de Alcalá, que só haveria por morte de D. Branca de Melo. Era então o herdeiro da casa dos senhores de Alcáçovas, D. Henrique Henriques.

Foi D. João de Bragança quem mandou fazer os paços do concelho da vila, à época, e a audiência, ou seja, a sala do tribunal, que integraria esse mesmo espaço, pois as câmaras tinham então poderes judiciais. O local escolhido foi no sítio do açougue, que foi mudado para outro espaço.

Terá sido no paço dos Henriques que D. Afonso V recebeu, em 1479, a embaixada de Garcia Sanches de Toledo que veio negociar o tratado de paz entre os reinos de Portugal e Espanha para o termo da guerra de sucessão deste último reino, tendo-se estabelecido a entrega das praças conquistadas durante a mesma. Através de uma linha imaginária, traçada ao nível do paralelo 27, na altura das Canárias, o tratado permitiu ainda a divisão do domínio dos mares entre os dois reinos ibéricos: a Norte para a coroa de Espanha e a Sul as terras descobertas e a descobrir para a coroa de Portugal. Espanha recebeu as ilhas Canárias enquanto Portugal obteve o reconhecimento do seu domínio sobre a ilha da Madeira, o arquipélago dos Açores, o de Cabo Verde e a Costa da Guiné. Tratado assinado em Alcáçovas a 4 de setembro daquele ano e ratificado em Toledo a 6 de março de 1480, pelos Reis Católicos, ficando conhecido por Tratado de Alcáçovas-Toledo.

D. João de Bragança seria senhor da vila até 1483, mas, neste ano, foi condenado por traição por estar envolvido na conspiração do seu irmão contra o rei, e a mercê foi-lhe retirada. D. Henrique Henriques assumiu então o senhorio de Alcáçovas, com todas as suas rendas e jurisdições, concedido por D. João II.
 
Várias vezes estanciaram os monarcas em Alcáçovas, nomeadamente em diferentes momentos entre 1489 e 1495. Nesse contexto, foi nesta vila e, supostamente, no paço dos Henriques, que D. João II fez o seu testamento, a 29 de setembro daquele último ano, tendo determinado nesse documento que o seu sucessor seria o seu primo e cunhado, D. Manuel, duque de Beja.

Em 1505, D. Fernando Henriques, 3º Senhor de Alcáçovas, assumiu o senhorio da vila.

No âmbito da reforma dos forais levada a cabo por D. Manuel I, aquele concebeu à localidade um foral novo em 1512. Na época a câmara da vila era constituída por dois juízes, três vereadores, um procurador e um escrivão da câmara. À exceção do procurador e do escrivão todos os outros eram escudeiros, sinal de alguma nobilitação do poder nesta vila.

Talvez na mesma época, Alcáçovas terá recebido o seu pelourinho, símbolo da sua autonomia concelhia, do qual há registo documental de ter sido demolido em 1865, mas que nunca foi referenciado em publicações sobre o tema. Fragmentos dessa obra serão as pedras trabalhadas que foram encontrados em 2015, aquando da realização das obras de reabilitação da igreja Matriz, e que estão hoje no interior dessa mesma igreja. De facto, a feição de duas delas, por comparação com as partes componentes dos pelourinhos, levam-nos a colocar a hipótese de que pudessem ter pertencido a esse monumento que Alcáçovas. Efetivamente, uma delas poderia ser uma base, onde assentava a coluna do pelourinho, e a outra, o remate do mesmo. Esta, de maior valor artístico, apresenta o que parece ser uma representação rudimentar de uma esfera armilar encimada por uma coroa, símbolos régios por excelência no período manuelino e que se encontram em outros pelourinhos de diversos concelhos, com destaque para o século XVI e posteriores.

A igreja Matriz, embora fundada na Idade Média, sofreu obras de vulto no período de quinhentos. Erigida sobre um primitivo templo gótico, teve uma construção iniciada nos anos de 1530-1531, sob auspícios do Cardeal-Infante D. Afonso, bispo de Évora.  O edifício apresenta, assim, uma arquitetura Renascentista e é um arquétipo da igreja-salão. Nas naves laterais abrem-se oito capelas, entre as quais a capela dos Henriques onde foram sepultados os senhores de Alcáçovas, desde o primeiro donatário até ao sétimo, com exceção do 5.º senhor que morreu em África, depois de ter sido ferido e feito prisioneiro na sequência da batalha de Alcácer Quibir. Esta capela faria parte do primitivo templo gótico. 

Do século XVI provêm diversas ermidas que se encontram na vila. A de São Pedro já existia em 1536, tendo sido fundada por Luísa Rodrigues, viúva de Luís de Mira de Sequeira. E a ermida de São Sebastião já existia em 1537. Também houve uma ermida do Espírito Santo, que se situava na praça, junto ao paço dos Henriques. Seria do século XVI pois teve uma lápide sepulcral de 1550. Foi demolida em 1861. Já no final de quinhentos, mais precisamente em 1599, foi fundada a ermida de São Geraldo por uma comissão de moradores que se constituiu em irmandade. 

O convento de Nossa Senhora da Esperança surgiu a partir de 1541, ano em que a ermida e o conjunto primacial já existente passaram para a Ordem Dominicana. As terras onde assenta foram doadas por D. Fernando Henriques, 3.º senhor de Alcáçovas. No início os religiosos prestavam devoção a Nossa Senhora da Graça, sendo que o culto a Nossa Senhora da Esperança só surgiu 15 anos depois.

Também no século XVI, em data desconhecida, foi fundada a Santa Casa da Misericórdia de Alcáçovas. Túlio Espanca afirmou que a igreja da Misericórdia teve início em 1551, ano em que, a 13 de junho, foi feita uma doação para o efeito, das casas de Margarida Rodrigues, situadas na rua Direita. Todavia, o autor não cita o documento onde se baseou para fazer esta afirmação e esse texto é desconhecido. Além disso, essa data pode não ser a mesma da fundação da instituição.  De facto, existe na igreja da Misericórdia uma inscrição em pedra onde se registou: “Edificou-se esta Casa da Santa Misericórdia na era de 1551 a 10 de setembro”. O padre Joaquim Pedro de Alcântara também refere esta inscrição, deixando em aberto a possibilidade de que aquela data possa corresponder à da provável fundação. No entanto, também regista que “outra notícia diz que se acabou” naquela data. Mas não cita a fonte de informação. Na realidade, não seria possível edificar-se a igreja em tão curto espaço de tempo (entre junho de setembro) pelo que, depois da doação do espaço feito em junho, as obras da igreja devem ter tido início em setembro. E a Misericórdia teria sido fundada nesse mesmo ano ou pouco antes. No Arquivo da Santa Casa da Misericórdia, cuja organização e inventariação terminou em 2017, não se encontrou documento referente à fundação da Casa e a data mais antiga aí registada remonta a 1575. 

No período quinhentista sucederam-se outros senhores: em 1568, D. Henrique Henriques, 4º Senhor de Alcáçovas; em 1576, D. João Henriques, 5º Senhor de Alcáçovas; e em 1578/1579, D. Jorge Henriques, 6º Senhor de Alcáçovas. 

Foi ainda no século XVI que o paço dos Henriques sofreu grandes obras de remodelação, sendo o edifício mais antigo englobado em novos acrescentos.

No primeiro terço do século XVII o paço sofreu novas obras devidas a D. Jorge Henriques, 6.º donatário da vila, nos anos 20 e 30 dessa centúria. 
Sobranceiro ao paço, existe um horto totalmente murado e que encerra arquiteturas devocionais, de fruição e de carácter produtivo, num recinto isolado. Nele salienta-se a ermida de Nossa Senhora da Conceição cujo orago original era S. Jerónimo. O horto e a ermida, segundo André Lourenço e Silva, devem decorrer de campanhas de obras na década de 40, ou talvez de 50, do século XVII. Nas construções do horto destaca-se a decoração por embrechado: técnica de cravar e imbricar matérias fragmentárias como cacos de vidro, conchas, búzios, contas, missangas, pedrinhas de cor, esponjas marinhas, porcelanas e azulejos de padronagem, reunidos de forma sistemática segundo programas pré-estabelecidos e aplicados de modo consistente sobre a argamassa fina para o revestimento de panos murários, abóbadas, frontais ou frisos.
 
A ermida de São Teotónio foi fundada pelo Deão da Sé de Évora, D. Teotónio Manuel, presumivelmente na década de 1650, junto às suas casas nobres da Travessa do Relógio.

Ao longo do século XVII outros descendentes dos Henriques se sucederam na Casa: em 1656, D. Henrique Henriques, 7º Senhor de Alcáçovas; em 1685, D. Jorge Henriques Pereira de Faria, 8º Senhor de Alcáçovas; e, em 1686, D. Jorge Henriques Pereira de Faria, 8º Senhor de Alcáçovas.
Sobressai nos embrechados do horto do paço uma figura equestre que foi considerada, por André Lourenço e Silva, o retrato evocativo de D. Henrique Henriques, 7.º donatário da vila, numa iconografia onde se ligam a imagem da autoridade da família dos Henriques e a imagem da resistência anti-castelhana, uma vez que aquele participou nas Guerras da Restauração como oficial do exército do Alentejo.

No século XVIII, por comparação com Viana e Aguiar, Alcáçovas era a localidade que tinha mais habitantes (1671), com uma percentagem de 3,61 pessoas por fogo.

Em 1716, D. António Henriques Pereira Faria de Lancastre, 9º Senhor de Alcáçovas, assumiu o senhorio. E foi no século XVIII que, pela primeira vez, em 1744, uma mulher herdou a jurisdição: D. Leonor Maria Ana Henriques Pereira de Faria, 10º Senhor (a) de Alcáçovas. 

Na época setecentista, o núcleo central da câmara da câmara de Alcáçovas era composto por dois juízes ordinários, três vereadores e um procurador. Juízes e vereadores eram oriundos das famílias mais proeminentes da localidade, ou seja, provinham dos mais ricos e com maior reconhecimento social, a nobreza local. Estando as funções judiciais reservadas aos juízes, os vereadores eram aqueles que efetivamente exerciam o governo da terra. Por outro lado, o procurador era oriundo dos estratos mais baixos da sociedade local, normalmente oficial mecânico (oleiro, tecelão, sapateiro, etc.) e competia-lhe zelar pelos bens concelhios. Por vezes, também era tesoureiro. Ainda não sabemos como decorria o processo de colocação destes oficiais, se eram eleitos localmente e confirmados pelos senhores de Alcáçovas ou se o senhor os nomeava de forma mais direta. A câmara tinha também um escrivão para reduzir a escrito todos os documentos necessários, sendo que era comum que juízes ordinários e vereadores não soubessem ler nem escrever. Havia ainda um juiz dos órfãos que devia zelar pelos interesses dos órfãos e pela administração correta dos seus bens, com quem também trabalhava um escrivão. E dois tabeliães, diríamos hoje notários, eram a garantia da autenticidade dos atos notariais.

Existia ainda, acima destes, a figura do ouvidor senhorial, magistrado que, em nome do senhor, tinha o poder de julgar – em segunda instância e com jurisdição cível e crime – as causas, depois de julgadas pelos juízes ordinários locais, numa primeira instância judicial. Tinha também funções de fiscalização da atuação daqueles. 

No século XVIII a igreja Matriz voltou a ser alvo de obras das quais resulta a atual fisionomia da fachada, com elementos barrocos. 

Nos meados daquele mesmo século existiam na vila oito confrarias, organizações de cristãos que tinham como fins garantir a entreajuda entre os confrades e promover o culto religioso. Além da Misericórdia registam-se também as seguintes invocações: Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora do Rosário, das Almas, Santo António, Nossa Senhora da Assunção, Nossa Senhora dos Remédios e Nossa Senhora das Brotas. 

Nos princípios do século XIX a vila passou por novas mãos, sempre na mesma família: em 1808, D. Caetano Henriques Pereira de Faria Saldanha de Lancastre, 11º Senhor de Alcáçovas, assumiu o senhorio; depois, em 1822, foi a vez de outra mulher, D. Teresa Francisca de Paula Henriques Pereira de Faria Saldanha de Lancastre, 12º Senhor (a) de Alcáçovas; e em 1824, D. Francisco de Sales de Lancastre, 13º Senhor de Alcáçovas, sendo este o 1.º conde de Alcáçovas, a partir de 1834. 

O cemitério, encostado à igreja Matriz, foi iniciado em 1820.

Em 1836 a história administrativa da vila iria mudar drasticamente. O código administrativo de 1836 iniciou uma reorganização administrativa sob uma perspetiva centralista. O número de concelhos, passou então de mais de 800 para 343. Entre os vários concelhos extintos também esteve o de Alcáçovas, passando a vila a ser uma freguesia do concelho de Viana. 

Foi já depois dessa alteração que D. Caetano de Sales de Lancastre, 14º Senhor de Alcáçovas, assumiu o senhorio e o condado em 1840. Ainda no século XIX sucederam-se D. Luís de Henriques de Lancastre, em 1865, 3º Conde de Alcáçovas, 13º Senhor de Alcáçovas; e D. Caetano Henriques Pereira de Faria de Lancastre, em 1892, 4º Conde de Alcáçovas, 16º Senhor de Alcáçovas.

A atual feira de Alcáçovas terá sido criada em 1841, numa iniciativa da câmara municipal de Viana, embora, na época, se realizasse junto da ermida de São Sebastião. 

A Sociedade União Alcaçovense foi fundada em 1885 e teve como um dos fundadores Pe. Joaquim Pedro de Alcântara, pároco local e uma das personagens marcantes do século XIX alcaçovense. A ele se deve a escrita das Breves Memorias da Villa das Alcáçovas, impressas em 1890. O autor viria a falecer em 1911. Aquela Sociedade, além de fomentar a música, possuindo uma banda filarmónica, determinou também a existência de um teatro, de uma biblioteca e uma aula de ensino complementar ou de outra disciplina ou língua. 

De 1890 data também a escola feminina e masculina do rossio de S. Sebastião, depois denominado largo Alexandre Herculano. 

Já depois da implantação da república, em 1911, deu-se a fundação da Caixa de Crédito Agrícola de Alcáçovas. 

No contingente do Corpo Expedicionário Português que em 1917 foi enviado para I Guerra Mundial (1914-1918), foram integrados soldados oriundos de Alcáçovas.

O Hospital foi reaberto em 1924 depois de ter sido alvo de grandes obras de beneficiação.
 
Em 1929 o antigo coreto de madeira, desmontável, que já existiria desde o século XIX, foi substituído pelo atual, no Largo Alexandre Herculano, promovido pela Sociedade União Alcaçovense.
 
Na década de quarenta do século XX terá sido instalado o cinema na Rua do Relógio, valência que deixaria de funcionar no final da década de setenta ou no princípio da década de oitenta.

No século XX, após a implantação da Républica e com o fim da monarquia, usaram o título de condes de Alcáçovas D. Luís Maria Henriques Pereira de Faria de Lancastre, 5º Conde de Alcáçovas, 17º Senhor de Alcáçovas; D. Caetano Henriques de Mendia Pereira Saldanha de Lancastre, 6º Conde de Alcáçovas, 18º Senhor de Alcáçovas e 5º Conde da Cuba.; e D. Luís Perez Quesada Henriques de Lancastre, 7º conde e 19º senhor das Alcáçovas, conde de Cuba e representante do título de visconde do Torrão. 

REFERÊNCIAS:
Arquivo Nacional Torre do Tombo, Memórias Paroquiais, Dicionário Geográfico de Portugal, Tomo 1, nº 72, pp. 519 a 524.
ALCÂNTARA, Joaquim Pedro de, Breves Memórias da Villa das Alcáçovas, Évora, Minerva Eborense, 1890.
BAIÃO, Francisco José, Imagens e Memórias: a primeira República no concelho de Viana do Alentejo, Viana do Alentejo, Câmara Municipal de Viana do Alentejo, 2010.
BAIÃO, Francisco, “Notas sobre a ocupação pré-histórica do concelho de Viana do Alentejo – II”, Boletim Municipal do Município de Viana do Alentejo, n.º 73, dezembro de 2011, pp. 26-27.
BAIÃO, Francisco, “O Mundo Romano – II”, Boletim Municipal do Município de Viana do Alentejo, n.º 75, junho de 2012, pp. 30-31.
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