Início património igreja de nossa senhora da anunciação (matriz de viana)

Abrir Lista
Aguiar   Alcáçovas   Viana do Alentejo Geral

DATA
Séculos XVI-XX

FOTOGRAFiA
Igreja de Nossa Senhora da Anunciação (Matriz)
Joaquim Filipe Bacalas - 2009

Portal Manuelino
Joaquim Filipe Bacalas - 2009

TEXTO
Fátima Farrica - 2015

Igreja de Nossa Senhora da Anunciação (Matriz de Viana)



A primitiva igreja do aglomerado urbano vianense terá sido construída por volta de 1260, após D. Gil Martins de Riba de Vizela ter recebido em doação (1259) a herdade de Foxem (espaço que deu origem à vila), e situava-se em local ligeiramente afastado daquele onde se encontra hoje implantada a actual igreja matriz. Designada por Santa Maria de Foxem, essa igreja estaria edificada, segundo Francisco Baião, no local onde funciona actualmente o Posto de Turismo, ou seja, à esquerda de quem entra pela porta Norte do castelo. Todavia, Espanca situa no mesmo local a primeira câmara vianense. Certo é que em 1580, e até 1683, a câmara funcionou, de facto, dentro do recinto amuralhado do castelo, independentemente da localização exacta que tivesse. No entanto, é possível supor que no mesmo espaço tenham funcionado primeiro a igreja primitiva e depois a câmara, após desafectação do culto, sobretudo depois da construção da nova igreja paroquial (Matriz) – início do séc. XVI. 
Mas mais relevante é o facto da localização apontada por Baião vir refutar a teoria, tradicionalmente propalada por alguns autores, de que a matriz primitiva era na igreja de Santo Aleixo, posteriormente de São João (hoje inexistente e que se situava no local da antiga escola primária de São João). Fundamentam esta tese o facto de não se terem encontrado vestígios de enterramentos em São João, sendo que a prática corrente era a de se localizarem cemitérios ao redor das igrejas paroquias; e a constatação da dureza do terreno envolvente, que dificultava essa função. Ao invés, além dos vestígios, no interior do castelo, de uma construção de época anterior à da edificação da fortaleza (com uma janela românica e um portal do gótico primário); também no aro envolvente da localização da igreja de Santa Maria aqui apontada, onde o terreno é muito mais fácil de escavar, os enterramentos medievais têm sido encontrados, bem como várias pedras funerárias (reaproveitadas, aliás, algumas, na construção do castelo). 
A actual igreja de Nossa Senhora da Anunciação (Matriz), implantada no interior do castelo, é uma construção já do início do século XVI, que se integra na corrente arquitectónica do Gótico, com elevada expressão do estilo decorativo Manuelino, sobretudo no portal, considerado um dos mais preciosos exemplares deste estilo no Sul do país.
Obra atribuída a Diogo de Arruda que em 1521 foi nomeado mestre-de-obras do rei na comarca do Alentejo e um dos nomes mais insignes da arquitectura deste período. Esta igreja tem semelhanças com a igreja da Madalena de Olivença e com a antiga Sé de Elvas apresentando grande cuidado e qualidade de execução. 
É uma igreja de três naves, onde se encontram vários elementos decorativos de estilo manuelino e de inspiração mudéjar nas abóbadas, nas pias de água benta e nos altares. Possui três capelas principais: a capela-mor dedicada a Nossa Senhora da Anunciação, onde se encontram as imagens da Virgem Maria e do Anjo Gabriel que lhe anuncia que vai ser mãe de Jesus; a capela de Nossa Senhora do Rosário, com um retábulo maneirista, do lado do Evangelho; e a capela das Almas, com retábulo do século XVIII, de talha dourada e marmoreada, do lado da Epístola. 
Os alçados laterais da igreja são revestidos de silhares de azulejos policromos com três tipos de padrão, que datam, tal como o púlpito, do século XVII. 
As frestas do transepto que iluminam a igreja possuíram vitrais do século XVI, profundamente intervencionados no século XX, e que representam S. Pedro e um personagem identificado, com reservas, como D. Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável. Encontram-se hoje expostos no espaço interpretativo do castelo.
Na nave lateral esquerda, próximo da sacristia, destaca-se o altar do Menino Jesus em talha dourada, de estilo rococó, montado no século XVIII. Na mesma nave encontra-se a capela tumular de Diogo Godinho, cavaleiro da Casa de D. Manuel I, consagrada mais recentemente ao Senhor Jesus dos Passos por nela se ter instalado a confraria da mesma invocação e, em tempos, a imagem respectiva. A sua estrutura data da época da fundação do edifício, mas recebeu vários elementos barrocos.
Da época original mantém a pia da baptismal, mas as pinturas que decoram os alçados são do século XIX.
À direita da entrada encontra-se o monumento fúnebre erigido em 1859 para receber os ossos do padre Luís António da Cruz, falecido em 1848. No novo espaço sepulcral colocou-se a inscrição: Á Memoria do reitor Luiz Antonio da Cruz, fundador do Instituto de Piedade e Beneficencia d’esta vila, e fallecido em 27 de Setembro de 1848. A Junta de Parochia de Vianna d’ Alemtejo em testemunho de gratidão, fez erigir este monumento, e para elle trasladar os seus ossos, no anno de 1859. 
Sobre a sacristia, com acesso pelo exterior do edifício, localiza-se capela de Santo António.

Protecção: Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP / Zona "non aedificandi", Portaria, DG, 2.ª série, n.º 150 de 30 junho 1948.

REFERÊNCIAS
BAIÃO, Francisco, “A «vila que chamam Foxem e o seu termo»”, Boletim Municipal do Município de Viana do Alentejo, nº79, Junho de 2013, p. 38-39
CARAPINHA, Aurora, “Os vitrais da igreja Matriz de Viana do Alentejo, Boletim Municipal do Município de Viana do Alentejo, nº 77, Dezembro de 2012, p38.
ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal: Distrito de Évora: Concelhos de Alandroal, Borba, Mourão, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Viana do Alentejo e Vila Viçosa, Lisboa, Academia Nacional de Belas-Artes, 1978,Tomo IX, Vol. 1.

     MUNICÍPIO DE VIANA DO ALENTEJO

Coordenação Científica: Fátima Farrica     ::     Todos os direitos reservados: Conhecer a História@2017