Início património ermida do senhor jesus do cruzeiro

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Aguiar   Alcáçovas   Viana do Alentejo Geral

DATA
Séculos XVIII-XIX

FOTOGRAFIA
Ermida do Senhor Jesus do Cruzeiro
Joaquim Filipe Bacalas - 2017

TEXTO
Fátima Farrica - 2015

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Ermida do Senhor Jesus do Cruzeiro



A ermida está localizada a cerca de 200 metros a sudeste do santuário de Nossa Senhora de Aires.
Apesar de a devoção a Cristo ser muito antiga, o grande surto cristológico em Portugal ocorreu nos séculos XVII e XVIII, época em que a devoção popular ao Crucifixo fez aumentar o número quer de pequenas capelas, quer de grandes santuários dedicados a Jesus localizados no exterior das localidades. A par desta devoção desenvolveu-se, na mesma época, o culto mariano e a construção dos santuários que lhe dão expressão, como é o caso do actual santuário de Nossa Senhora de Aires que resultou de uma substituição, feita no século XVIII, de um edifício primitivo do século XVI.
A construção da pequena capela do Senhor Jesus do Cruzeiro de Viana é, também ela, precisamente, uma manifestação da devoção popular ao Crucifixo na centúria de Setecentos. Por isso a sua planta é em cruz grega. 
Segundo informação documental da época, a construção da ermida foi determinada em 1742 para ser executada no local de um cruzeiro pré-existente, ou seja, onde já existia uma “cruz do Senhor Jesus da Pedra”. Essa cruz seria, segundo Espanca, o cruzeiro do castelo, que terá sido tranferido para o interior do recinto amuralhado já por volta de 1804. 
Sabemos que, por escritura de dia quinze de Novembro de 1742, Geraldo da Silva Rocha, morador em Ferreira, que era possuidor de um ferragial com vinha e pomar no sítio do cruzeiro, coutos da vila, doou, no dito ferragial, junto à cruz do Senhora da Pedra, um pedaço de terra para se fazer a igreja. Este tinha quarenta e seis palmos de comprimento e vinte e três de largura. Determinou-se ainda, no mesmo acto, que a porta da igreja ficaria virada para a estrada que ia para Nossa Senhora de Aires.
No mesmo documento é citado o irmão Manuel Frutuoso que, por devoção, pedia para as obras da igreja do Senhor Jesus da Pedra. Seria, provavelmente, membro de alguma irmandade ou conjunto de fiéis que, de forma mais informal, venerasse a referida cruz. 
Em 1755 a ermida do Cruzeiro – por representar Cristo na Cruz – já estava construída. Nela existiu uma inscrição que indicava que foi financiada com as esmolas dos fiéis e aí se celebrou a primeira missa a 26 de Setembro de 1756. 
Raquel Seixas considera que, tal como aconteceu noutros locais, a Capela do Senhor Jesus do Cruzeiro poderá obedecer a uma lógica da fusão entre o culto mariano e o culto cristocêntrico. Desde logo, afirmado na iconografia de Nossa Senhora de Aires que, na verdade, é uma representação de Nossa Senhora da Piedade, ou seja, a figuração da Senhora como testemunha da crucificação de Cristo, que é representado disposto sobre o seu regaço. Deste modo, ao santuário da Senhora de Aires acrescentou-se, nas suas imediações, a capela do Senhor Jesus do Cruzeiro, representativa do último dos passos da Paixão de Cristo. No dizer da autora, “Estes dois templos em conjunto contam a mesma história, tornando-se, por isso, complementares. Ao Cristo Crucificado sucede-se a Senhora de Aires (da Piedade) que conjuntamente com o Filho sofreu diante da Cruz.”  
Dada a época de elevação, a capela é de estilo Barroco, com planta em cruz grega de braços pouco salientes, praticamente quadrangular, coberta de cúpula hemisférica. A abóbada, assente em trompas, possui um lanternim octogonal destinado a proporcionar mais iluminação ao interior e que é coroado no exterior por um coruchéu.
O portal é enquadrado por duas janelas quadrangulares idênticas e abre-se sobre o mesmo uma janela em forma de trevo. A fachada é rematada por um pequeno frontão, decorado com uma vieira, sobre o qual se ergue uma cruz de remates trilobados.
A capela encontra-se actualmente muito degradada. O interior, de espaço unificado, foi despojado dos elementos originais, incluindo do retábulo-mor. São ainda visíveis alguns vestígios de terem existido pinturas murais. 

Protecção: Monumento Nacional, Decreto n.º 31-J/2012, DR, 1.ª série, n.º 252 de 31 Dezembro 2012
 

REFERÊNCIAS
Arquivo Distrital de Évora, Cartório Notarial de Viana do Alentejo,  Lv. 31.
ESPANCA, Túlio, “Estudos Alentejanos”, A Cidade de Évora: Boletim de Cultura da Câmara Municipal (1ª Série), nº 60, 1977, pp. 189-284. 
PÁSCOA, Marta Cristina, Fr. Francisco de Oliveira – a escrita da História Regional e Local no século XVIII, vol. II, Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2002 (Tese de Mestrado policopiada)
SEIXAS, Raquel, O Santuário de Nossa de Aires: arquitectura e devoção (1743-1792), Lisboa, Universidade Nova, 2013 (Tese de Mestrado policopiada).
www.monumentos.pt
www.patrimoniocultural.pt

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