Importante benemérito da localidade, reitor da Matriz, de seu nome completo Luís José António da Cruz, era o filho mais novo de José António da Cruz e de D. Maria Francisca. Neto paterno de João da Cruz Loureiro e de Joana Maria e neto materno de André Lopes Ruivo e de Margarida Martins, todos naturais de Viana. Foi baptizado na mesma localidade, a 30 de Abril de 1777, sendo seu padrinho o juiz de fora Luís José Aleixo Pais. Viria a falecer nesta vila a 26 de Setembro de 1848, aos 71 anos de idade.
Tendo frequentado os estudos em Évora, nomeadamente as aulas de Teologia do Colégio do Espírito Santo com o propósito de chegar ao estado sacerdotal, em 1797 foi-lhe feito dote por seus pais, para poder tomar ordens de subdiácono. Inicialmente, o património doado consistia num ferragial com oliveiras no sítio do Bismo, coutos de Viana, do qual tomou posse a 12 de Julho daquele ano. Porém, questões jurídicas embargaram a possibilidade de auferir daquele bem, o que determinou nova doação dos pais, a 27 de Outubro. Desta vez foi-lhe doado um ferragial e olival em Malfor e um ferragial e olival no sítio do Poço Concelho.
O facto de sabermos que o pai foi escrivão da câmara de Viana e Familiar do Santo Ofício (Inquisição) permite supô-lo, logo à partida, nascido no seio de uma família com proeminência social local e algum desafogo económico. Mas essa condição financeira favorável é mesmo atestada no seu processo de habilitação para tomar ordens, onde algumas das suas irmãs afirmam que o pai tinha muitos bens além daqueles com que dotava Luís António.
De facto, o agregado familiar completo era composto pelo pai, pela mãe e, que exista referência, por mais cinco irmãos mais velhos: um rapaz chamado Francisco António da Cruz, que também foi padre, mas que no ano de 1791 já havia falecido; e quatro raparigas cujos nomes, da mais velha para a mais nova, eram Joana Maria da Esperança, Josefa Joaquina, Maria Francisca Antónia e Teresa Luísa de Santa Ana. Em 1798 eram todas solteiras e tinham entre 25 e 34 anos. Luís António tinha, então, 21 anos. Apesar do aparente conforto económico da família, supomos que sustentar tantas raparigas não fosse tarefa simples. Note-se que vivem numa época em que as mulheres de grupos sociais mais proeminentes não trabalham e que, para os padrões da época, contavam já com uma idade avançada para casar.
Ao longo da vida terá herdado dos pais diversos bens a que juntou ainda outros que adquiriu por compra. A seu respeito João Manuel Santana de Sousa refere: “Os bens de mão-morta vendidos pelo estado em hasta pública, como bens nacionais, atingiam baixos preços. Às arrematações concorria, por vezes um único interessado que adquiria as terras pela base de licitação. Poucos dispunham de capitais para investir. (…) O caso do padre Luís António da Cruz é esclarecedor. Até 1811 havia acumulado 22 fazendas (ferragiais, courelas, vinhas e olivais) e era foreiro de 3 herdades”. Pela sua morte, a 26 de Setembro de 1848, deixou as herdades de Monte das Pedras, Marmelos, Famais, Montinho do Palanque, Cega Gatos, Flor da Rosa, Espadaneira, Fevereira e Vinagra, 2 quinhões de renda sobre a Herdade da Cegonha e sobre a Herdade do Aniel, a Quinta do Gafanhão e ainda as hortas de Santo António e da Cancela. A estas juntavam-se ainda 24 propriedades de pequena ou média dimensão (ferragiais, courelas, vinhas e olivais). Tal significa que, em 37 anos, entre 1811 e 1848, passou de foreiro de três herdades a proprietário de nove, ao que acrescentou ainda a posse de 2 quinhões de renda em outras duas herdades, de 1 quinta, de 2 hortas e de mais 2 pequenas ou médias propriedades. Possuía também a casa onde morava situada na antiga rua dos Carreteiros, hoje rua Pe. Luís António da Cruz, mudança toponímica operada após a implantação da República, ocorrida em 1910. Os lucros da posse de todas estas propriedades permitiram-lhe acumular uma fortuna que usou, juntamente com as mesmas e com bens de outra natureza, para fins de beneficência. No seu testamento, datado de 16 de Setembro de 1848, destinou o seu grandioso património para a manutenção de uma capela de missa quotidiana, de um hospício, de uma escola e de um montepio. Promoveu, assim, a constituição do que se designou, depois da morte do testador, por Instituto de Piedade e Beneficência.
REFERÊNCIAS
FARRICA, Fátima, "Uma descrição da capela do Santíssimo Sacramento de Viana do Alentejo", Callipole: Revista de Cultura, nº 19, 2011, pp. 267-275.
FARRICA, Fátima, No Espaço e no Tempo: Contributos para a História das Instituições de Viana do Alentejo (Séculos XIV-XIX), Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2015.