João Cardim iniciou os seus estudos no Colégio da Companhia de Jesus, no Porto, tendo-o frequentado desde os oito até aos doze anos de idade, altura em que foi viver para Lisboa. No Colégio de Santo Antão da Companhia de Jesus prosseguiu os seus estudos de Gramática, Humanidades e Retórica. O seu itinerário na Companhia de Jesus foi marcado pelo fervor da vida espiritual, pelo rigor da vida ascética, pela prática das virtudes heroicas e por uma significativa atividade missionária, integrando várias missões do interior, levadas a cabo pelos jesuítas.
Teve um irmão na ordem de Cristo, o Pe. Frei Plácido Cardim, e dois irmãos que também professaram na Companhia de Jesus: Diogo Cardim, que foi missionário na Índia, e António Francisco Cardim, que foi missionário na Índia e no Japão. E mais cinco irmãs freiras professas: Soror Isabel de São Francisco que professou no mosteiro do Bom Jesus de Viana do Alentejo e Soror Francisca da Trindade que também professou no mesmo mosteiro instantes antes de falecer; D. Inês de Andrade, D. Serafina de Andrade e D. Leonor Froes, que foram religiosas do convento de Santa Clara de Portalegre. Teve ainda outra irmã, D. Maria Cardim de Andrade, que casou em Coimbra com Diogo Marmeleiro de Noronha, natural daquela cidade, Fidalgo da Casa Real.
João Cardim faleceu de doença, em Braga, com fama de santidade, aos 29 anos de idade, a 18 de fevereiro de 1615.
A sua moldura de vida justificou que decorresse um processo para a sua beatificação ou canonização pelos anos entre 1643 e 1645, sendo mesmo relatados, por certas testemunhas, a realização de alguns milagres na cura de doenças. Sobre a sua vida existe uma obra basilar do século XVII da autoria de Sebastião de Abreu: Vida, e virtudes do admiravel Padre Joam Cardim da Companhia de Jesu Portuguez natural de Vianna de Alentejo... Nesta obra, que se enquadra no âmbito das obras hagiográficas suas contemporâneas, foi exaltado por ser considerado um exemplo de diversas virtudes: a humildade, a pobreza, a obediência, a castidade, a modéstia, a penitência e o desprezo do mundo, acompanhadas pelo fervor da oração e das suas devoções, solidificadas pelas virtudes teologais.
O padre João Cardim escreveu diversas cartas espirituais dirigidas ao Padre António de Vasconcelos, da Companhia de Jesus; a António Cardim, seu irmão, também jesuíta; à Madre Isabel de São Francisco, sua irmã, religiosa no mosteiro do Bom Jesus de Viana; a D. Serafina de Andrade, também sua irmã, religiosa no convento de Santa Clara de Portalegre; e a sua mãe, D. Catarina de Andrade.
No mosteiro do Bom Jesus de Viana eram venerados, como relíquia sagrada, os votos do padre João Cardim, escritos com o seu sangue, engastados em prata, e por eles se acreditava que Deus tinha feito muitos milagres.
REFERÊNCIAS:
Arquivo Nacional Torre do Tombo, Memórias Paroquiais, Dicionário Geográfico de Portugal, Tomo 39, nº 150, pp. 891 a 910.
FERNANDES, Maria de Lurdes Correia, “Entre a família e a religião: a “vida” de João Cardim (1585-1615)”, Lusitânia Sacra, 2º serie, nº 5, 1993, pp. 93-120.
MENDES, Paula Almeida, “«Leia estas cartas, que nelas verá debuxado seu ferveroso espírito». sobre algumas cartas espirituais e directivas de religiosos portugueses (séculos XVI e XVII)”, Via Spiritus, n.º 21, 2014, pp. 57-74.
MENDES, Paula Almeida, Biografia e Espiritualidade em Portugal na Época Moderna: as Vidas de João Cardim, S.J. (1585-1615), Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2007, 2 tomos, (Dissertação de mestrado policopiada).
MENDES, Paula Almeida, Paradigmas de papel: a escrita e a edição de “vidas” de santos e de “vidas” devotas em Portugal (séculos XVI-XVIII), Porto, CITCEM-Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória, 2017.